Beleza Americana, o filme que mais conquistou estatuetas no Oscar dos anos 2000 saindo vencedor em 5 categorias como: Melhor filme, Melhor ator, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia é um filme que surpreende, principalmente se tratando das reais emoções dos personagens que tentam se esconder dentro de suas vidas vazias e desmotivantes.
Em sua primeira cena, Beleza Americana já deixa bem esclarecido todo contexto que envolverá sua trama: “Meu nome é Lester Burnham. Essa é minha vizinhança. Essa é minha rua. Essa é minha vida. Eu tenho 42 anos e, em menos de um ano, estarei morto. É claro, eu ainda não sei disso. E, de certa forma, eu estou já morto.”
Deixando claro o desfecho do protagonista, o grande diferencial do filme é a análise das reais circunstâncias que o levaram naturalmente ao seu destino.
Uma bela casa, um jardim bem cuidado, carros na garagem, um casamento de anos e uma filha adolescente. A fórmula de qualquer boa família de classe média americana também é seguida pela família Burnham. A realidade entre quatro paredes porém, não é tão bela quanto as rosas vermelhas cultivadas no jardim.
A Relação conturbada entre o casal Burnham.
Enquanto Lester (Kevin Spacey) e Carolyn Burnham (Annette Bening) sustentam um casamento só de aparências, Jane (Thora Birch), a filha do casal tenta lidar com a vergonha de possuir uma família sem a mínima estrutura. O principal fato que foi capaz de desencadear as reações nos personagens, porém, foi a irresistível atração de Lester por uma das amigas do colégio de Jane, Angela Hayes (Mena Suvari) o retrato mais fiel da Beleza Americana.
É movido pelo objetivo de conquistar a garota que Lester deixa a acomodação de lado e reúne coragem para atitudes perigosas típicas de indivíduos que não têm nada a perder, transformando não necessariamente para melhor a relação entre os membros de sua já fragilizada família.
Representando o outro extremo da situação, encontramos a família Fitts liderada pelo conservador Coronel Frank Fitts (Chris Cooper), que procura através da extrema opressão controlar a vida do filho adolescente socialmente incompreendido Rick Fitts (Wes Bentley) e da esposa, psicologicamente inválida.
Jane Burnham e sua amiga Angela Hayes.
A um primeiro momento quando ainda não se percebeu a real profundidade da história podemos acreditar que Beleza Americana é só mais um filme que faz uso do apelo sexual como forma de mascarar a falta de uma história original. Essa questão é esclarecida posteriormente quando nos deparamos com personagens complexos e desenvolvidos. Na verdade, a exploração da sexualidade é de fato algo marcante na obra, mas é justamente através dela que são demonstrados os piores medos e os mais secretos anseios de cada personagem.
O protagonista interpretado por kevin Spacey em uma atuação brilhante é o retrato mais fiel do pai de família fracassado, que chega aos 40 anos sem grandes conquistas pessoais preso a um emprego medíocre e sem futuro, estando ainda, diante de uma família que foi esquecida quando a vitalidade e motivação abandonaram a vida de seus integrantes, os espectadores então, são inseridos em um mundo sem sentido, onde as pessoas procuram agarrar-se a qualquer coisa para serem capazes de continuar suas vidas.
Uma das grandes críticas é direcionada aos rótulos que envolvem grande parte das famílias americanas um conceito que tende cada vez mais a torna-se presente em qualquer área e circunstâncias de nossas vidas: A crescente necessidade de manter as aparências. Num mundo onde admitir seus medos e fracassos é algo digno de vergonha, as pessoas estão cada vez mais tentadas a transmitir uma imagem de segurança e autoconfiança que consistem em apenas uma forma de proteção ao seu interior fragilizado.
Um dos grandes diferenciais do filme é conseguir esclarecer os motivos que levaram os personagens a se tornarem o que são. As escolhas e circunstâncias nos são apresentadas de maneira não convencional, sob uma ótica que desperta nosso interesse. Dessa forma, cada personagem por mais simplória que seja sua participação possui grande importância e um diferencial para que Beleza Americana, se tornasse uma obra de aspecto tão interessante.