Não escondo a minha preferência por filmes que defino como ‘incomuns’. Essas produções que apresentam originalidade e diferenciais mas que não conseguem conquistar o grande público são enquadradas na categoria de filmes ‘cult’. Geralmente possuem maior complexidade e subjetividade e não fazem uso dos conceitos e rótulos definidos pelo cinema comum, que consistem em esmiuçar cada situação apresentada, e por consequência, não deixar abertura para se pensar, refletir, captar a mensagem revelada num olhar, numa atitude muda ou numa trilha sonora, por exemplo.
Drive, felizmente faz parte desse grupo de filmes seletos e raros que não é para todo mundo. O longa baseado no livro de James Sallis apesar de ter alcançado grande visibilidade no festival de Cannes, na França dando ao diretor Nicolas Winding Refn o prêmio de melhor direção, não recebeu a merecida indicação na categoria de melhor filme do Oscar de 2012, sendo considerado uma das maiores injustiças da premiação daquele ano.
Ryan Gosling é o protagonista que não precisa ter um nome, é apenas ‘driver’, duble de cenas de ação de Hollywood e motorista de fuga nas horas vagas. Seu trabalho ilegal não deixa dúvidas quanto a suas intenções e responsabilidades:
“Diga a hora e o lugar que te dou cinco minutos. Haja o que houver nestes cinco minutos eu estou a disposição, seja para o que for. Mas se acontecer alguma coisa após este tempo está sozinho, entendeu? Eu não pego em armas e não me envolvo. Eu dirijo.”
Dirigir é essencialmente o que o move, o que o liberta. Mesmo em situações de extremo perigo é diante do volante que o personagem torna-se completo e porque não, distante
Carey Mulligan como Irene, seu filho Benício (Kaden Leos) e ‘driver’.
O sentimento de solidão só é rompido quando o motorista passa a interagir com sua vizinha Irene e o filho dela, Benício e logo passa a ser visto como o herói que sustenta uma família frágil, ferida pela ausência de um pai e de um marido.
Seu trabalho secreto no entanto, acaba envolvendo-o no esquema de uma perigosa quadrilha, que além de colocar em jogo a própria vida, passa a ameaçar a segurança das únicas pessoas com quem mantinha laços afetivos realmente verdadeiros.
O filme brinca com a percepção de seus espectadores, usando a iluminação para transmitir o clima de mistério e dar profundidade as emoções. Pouco são os diálogos presentes no filme, frequentemente a interpretação das cenas deve-se a trilha sonora vintage e por jogos de sombra e luz. Outra característica marcante é a lentidão das tomadas que em alguns momentos tornam-se exageradas em oposição as cenas de ação bem construídas.
A violência estampada na famosa jaqueta de brim do personagem
O longa passa a ser violento a partir de sua segunda metade. É nesse momento que o protagonista assume a posição de herói politicamente incorreto e revela habilidades até então, desconhecidas. A violência porém, é abordada de maneira coerente e justificável sendo o principal ingrediente que confere aos espectadores minutos de tensão e expectativa crescente.
Drive foi marcante para mim, mas é de se esperar que realmente não caia no gosto do grande público. :)