É praticamente instintivo associarmos a figura de um assassino em série a um homem. Muitas vezes, é difícil imaginarmos mulheres aparentemente comuns, vivendo em sociedade, como uma assassina terrível que tem a frieza e a inteligência necessária para organizar cada crime e ainda, se camuflar tão bem entre as pessoas de seu convívio ou de sua vizinhança.
Lady Killers de Tori Telfer

Tori Telfer com o lançamento de Lady Killers publicado pela Darkside Books na linha Crime Scene, nos apresenta um verdadeiro dossiê com as histórias detalhadas de 14 assassinas em série famosas da nossa história.
É muito mais comum, figuras femininas perigosas e violentas caírem no esquecimento, por mais chocantes e terríveis que os seus crimes possam ter sido tramados e executados.
No pensamento coletivo, é desconfortável sustentarmos a imagem de uma mulher que não controla os seus impulsos violentos, é difícil muitas vezes, até mesmo assumirmos que mulheres, possam tê-los.
Por mais que a figura feminina possa ter sido demonizada em diversas culturas e religiões, como a tentação que leva o homem e consequentemente, toda a humanidade à perdição. É muito difícil atribuir a uma mulher, na vida real em um contexto cotidiano, a imagem de uma psicopata que comete seus crimes calculadamente, e não movidas pelo reflexo instintivo de uma reação, um rompante de histeria ou uma tempestade hormonal.

Essas damas assassinas eram inteligentes, mal-humoradas, coniventes, sedutoras, imprudentes, egoístas, delirantes e estavam dispostas a fazer o que fosse necessário para ingressar no que elas viam como uma vida melhor. Foram implacáveis e inflexíveis. Estavam perdidas e confusas. Eram psicopatas e matadoras de crianças. Mas elas não eram lobos. Não eram vampiros. Não eram homens. Mais uma vez, a ficha mostra: elas eram horrivelmente, essencialmente, inescapavelmente humanas.

O texto de abertura do livro é bastante informativo e nos leva a reflexões importantes, principalmente referente a maneira com que a sociedade tem lidado com as diversas assassinas em série que surgiram durante a história.
Uma das reflexões mais interessantes a meu ver é a maneira com que a mídia retrata tais ‘personalidades’, vemos aqui dois extremos: a sexualização ou a chacota. Há um verdadeiro esforço em ligar a assassina em série à luxuria, mesmo que o contexto de seus crimes em nenhum aspecto apresente uma conotação sexual.

Por outro lado, há uma necessidade de suavizar a figura de crimes cometidos por pessoas aparentemente inofensivas e de aspecto maternal, é difícil conceber a ideia de uma doce vovó com seus vestidos floridos e cabelos grisalhos ser portadora de uma mente violenta e psicopata, é dai que surgem apelidos tolos, de modo a ridicularizar e desacreditar a violência e agressividade feminina.

A autora dá um contexto bem profundo sobre a história de cada uma das 14 serial killers. Mergulhamos em suas histórias e conseguimos entender o tratamento recebido por essas mulheres, situações e abusos que acabaram por ajudar a deturpar a sua visão de vida e seu caráter. É interessante observar que de certo modo, a escrita da autora nos transmite certa empatia por essas mulheres, sem que isso possa suavizar ou tornar menos grave os crimes cometidos.
A abordagem consegue nos dar um bom contexto da vida dessas assassinas, como era a sua convivência em sociedade, os acontecimentos marcantes de sua trajetória, até uma abordagem psicológica das motivações que as levaram ao extremo de realizar o seu primeiro assassinato, e o que as conduziram a continuar cometendo esses crimes hediondos.
Elizabeth Bathory, a Condessa Sangrenta

Lady Killers abre, acertadamente, esse dossiê com a história de Elizabeth Bathory, (a Condessa Sangrenta), cujo passatempo, era torturar e matar as jovens criadas de seu castelo, garotas camponesas que tiveram a má sorte de cruzar o seu caminho. Ela é considerada uma das primeiras assassinas em série da história, “um símbolo da decadência aristocrática demente e sádica”, que até hoje faz parte do imaginário popular, alimentando rumores dos mais absurdos, como o que afirma que “a condessa se banhava no sangue fresco de suas vítimas para preservar a sua beleza”.
Em essência, as 14 Serial Killers escolhidas para compor esse livro, advém de séculos passados, o relato mais recente, Nannie Doss, ou a Vovó Sorriso é datado da década de 1950. No entanto, a edição brasileira conta com o acréscimo de mais 14 damas, que atuaram recentemente na nossa história e traz o debate ao nosso contexto atual.
A leitura de livros informativos como Lady Killers funciona para mim em doses homeopáticas. Acho o tipo de narrativa ideal para lermos entre o intervalo de outras leituras, até porque, mesmo sendo abordado com uma linguagem mais leve e até bem humorada, trata-se de um assunto pesado, um verdadeiro banho de sangue presente na história da humanidade.

Para finalizar transcrevo uma pequena parte do texto de conclusão de Lady Killers, no qual a autora faz uma reflexão sobre o Bem e o Mal:
Distanciar-se do crime é natural, mas distancie-se demais e o crime se tornará uma ilusão. Os psicólogos têm teorizado que amamos nos afastar do “mal” porque assim nos sentimos melhores com nós mesmos. […] A linha que divide o bem e o mal atravessa o coração de todo ser humano. E quem está disposto a destruir um pedaço do próprio coração?
♡
Bom pessoal, espero que tenham gostado da resenha de hoje. Vocês já conheciam Lady Killers? O que acharam da proposta do livro?
Nota: ☆☆☆☆ | Título: Lady Killers | ISBN: 8594541473 | Ano: 2019 | Especificações: 384 páginas | Editora: Darkside Books | Comprar: Amazon,
Darkside Books
[Esse livro foi enviado pela Darkside Books]
É um dos livros da Darkside que está na minha lista porque eu sempre consumo conteúdo sobre serial killers no geral, eu acho interessante tentar entender a mente dessas pessoas. No caso das mulheres, parece ainda mais complexo, porque tem todo um problema social só pelo fato de ser mulher envolvido.
Um beijo
Os aspectos psicológicos são muito interessantes, né?
Você vai adorar esse livro #certeza haha ;)
Os livros da Darkside são muito primorosos! Uma edição mais linda que a outra. Achei bem interessante sua resenha, na próxima vez que for a uma livraria certamente vou ver se encontro este livro pra folhear e quem sabe levar pra casa :)
http://letraecafe.com.br/
AHH que bom <3
É um livro realmente interessante e eles capricham sempre na edição, né?
Um beijo
eu tô louca pra ter esse livro em mãos, AAAAA ♥ é lindo demais! e esse tema, meudeus :)
hahaha é um tema que dá o que falar e uma edição linda que só vendo <3
Oi Dai! Sem dúvida, mais uma edição linda da Darkside. E curti bastante o tema. Realmente é muito difícil a gente ouvir falar sobre mulheres cometendo crimes e atos violentos, apesar de não ser tão incomum assim. Fiquei bem curiosa para ler sobre essas assassinas em série. Um beijo! :*
Ah que bom que gostou Camila !
Esse tema realmente não costuma ser abordado e tem tanta coisa interessante sobre os aspectos psicológicos principalmente.
Além de ser tenebrosa os relados.
Um beijo
Primeiramente que livro bonito, a capa dura, as cores, as ilustrações, dá vontade de ter. E segundamente.. pois é, tem todo esse esteriótipo de que mulheres são seres frágeis e sempre dóceis, acho que até por isso torna essa uma leitura tão interessante, adoro coisas que quebram isso. Não conhecia mesmo esse livro e fiquei muito tentada a ler. Obrigada pelo post!
Ah é um tema muito interessante, né?
Com essa edição dá mais vontade ainda ter na estante <3