Lançado em 2010 o novo livro de literatura adulta lançada por J.K. Rowling, “Morte Súbita”, tem como principal foco o tema político. Do ponto de vista literário, a autora conseguiu manter sua característica de escrita bem fluida e simples, conseguindo se desvincular totalmente do universo mágico criado através da obra que a consagrou: Harry Potter.
A autora que até então só havia lançado livros voltados para o publico infanto-juvenil soube ingressar com firmeza no ramo da literatura adulta e nos apresentou a dura realidade de um mundo nada mágico, no confinamento de uma pequena cidade no interior da Inglaterra, onde a vida de seus habitantes se interlaçam de maneira inevitável.
A obra possui um protagonista ausente, Barry Fairbrother. É através de sua morte que uma série de tramóias e intrigas políticas passa a se desenrolar, expondo publicamente os escândalos mais íntimos de seus personagens.
A história se passa em Pagford, um pequeno vilarejo no interior da Inglaterra que passa a ser então, palco de uma disputa política quando a cadeira antes ocupada por Fairbrother, fica vaga após seu falecimento.
O principal desafio era entrar em um acordo a respeito de Fields, um antigo loteamento que se transformou no bairro mais pobre entre as cidades de Pagford e Yarvil o que acabou desencadeando grande insatisfação entre as duas cidades vizinhas ao novo bairro, que não estavam dispostas a assumir os gastos gerados por sua população considerada “inferior”.
Quando os pró-Fields perdem seu principal representante no conselho municipal Barry Fairbrother, inicia-se uma corrida para eleger um representante a altura, enquanto o lado mais conservador, liderados por Howard Mollison vê uma importante oportunidade de delegar a Yarvil todas as responsabilidades com o bairro decadente.
As outras histórias ocorrem em paralelo com as questões políticas, mas em algum momento se chocam, mesmo que o encontro seja através de uma notícia divulgada na internet ou uma fofoca que corre pelas casinhas pomposas de Pagford.
A trama concentra-se na trajetória de algumas famílias. Podemos citar a médica Parminder Jawanda uma das principais aliadas de Fairbrother no conselho municipal e sua filha disléxica Sukhvinder, que sofre com as constantes humilhações cruéis de “Bola” Wall, o filho rebelde de Tessa e “Pombinho” Wall, funcionários do principal colégio da cidade. Ainda no núcleo adolescente temos a presença Gaia Bawden, a bela garota Londrina que não se conforma por ter largado uma vida agitada para ir viver em uma cidade com tão poucos atrativos aos jovens, fato que torna delicada a sua já desgastada relação com sua mãe, a assistente social Kay Bawden que fixou-se na cidade com a esperança de estabelecer uma relacionamento estável com Gavin, advogado e sócio de Miles Mollison que é casado com a instável empresária Samantha e filho de um dos casais mais antigos e orgulhosos de Pagford, Howard e Shirley Mollison.
Ainda encontramos a atitude oportunista de Simon Price no ramo político, que poderia expor a relação de ódio e violência contra a esposa Ruth, e os filhos Paul e Andrew Price. E finalmente, temos a problemática Kristal Weedon que reflete seu comportamento inadequado e promiscuo, a sua conturbada relação com a mãe viciada em drogas, um retrato fiel da realidade de Fields.
Essa imensa rede de histórias interligadas, nos apresentou os diversos ângulos de um mesmo acontecimento, expondo diferentes pontos de vista e o impacto na vida dos personagens de acordo com o seu grau de envolvimento com o ocorrido, essa característica atribuiu a “Morte Súbita” uma semelhança muito grande a um roteiro de novela, a trama demora a se desenvolver e não há um clímax definido tampouco personagens que possam nos causar verdadeira empatia por sua personalidade ou conduta.
Rowling tornou seus personagens extremamente humanizados, não há quem seja mal ou bom por completo. São levantados diversos temas polêmicos e abordagens sentimentais que vão do amor ao ódio, da culpa a absolvição.
Achei interessante o modo como a autora conseguiu ligar naturalmente tantas histórias distintas, porém, a grande questão fica por conta do real motivo de inserir uma quantidade tão grande de personagens se suas histórias são pouco desenvolvidas. A ausência de um protagonista marcante, ou de algum personagem que se destacasse dos demais e nos fizesse torcer, vibrar e nos envolver com seus feitos tornou a narrativa morna, arrastada e sem perspectiva de grandes reviravoltas.
Em “Morte súbita” nada muda, a sociedade é muito corrompida para melhorar em qualquer aspecto e o sentimento de pessimismo é o que prevaleceu após a leitura de suas últimas palavras.