Falar sobre a morte ainda é um tabu na sociedade moderna ocidental. Mesmo sendo, especificamente, a nossa única certeza na vida, é comum as pessoas se sentirem desconfortáveis ao pensar sobre o assunto e até mesmo, cair em um processo de negação e não aceitação da finitude da vida.
Acho importante pensar sobre o tema sem a morbidez e a carga pesada de melancolia que o assunto adquiriu ao longo dos anos. Imaginarmos qual pessoa gostaríamos de ser ao final da nossa vida, pode nos ajudar no aqui e no agora, nos trazendo mais clareza sobre as nossas prioridades e ajudando na tomada de decisões, que podem influenciar diretamente o rumo da nossa trajetória.
Adultos atormentados pela ansiedade da morte não são esquisitões que contraíram uma doença exótica, mas homens e mulheres cujas famílias e culturas deixaram de tecer as roupas protetoras adequadas para que eles aguentassem o frio gelado da mortalidade – Irvin Yalom (Psiquiatra)
Eu vejo que venho mudando bastante o meu modo de pensar sobre o tema ao longo dos anos. Já tive uma resistência (e pavor) muito maior em aceitar que todos nós passaremos. Acho que faz parte do amadurecimento e crescimento pessoal, além de também alterar a maneira com que nos relacionamos com o tempo e as pessoas ao nosso redor.
Para Toda a Eternidade de Caitlin Doughty
É cada vez mais evidente que estamos nos afastando da morte, seja por não falarmos sobre ela, ou por não participarmos mais ativamente dos rituais de passagem.
Hoje em dia existe uma indústria complexa que cuida disso por nós, tornando esse processo muito mais distante e asséptico. Em Para a Toda Eternidade a autora Caitlin Doughty levanta vários questionamentos sobre como lidamos com a morte na atualidade, além de nos levar em uma viagem a diversos locais do mundo e nos apresentar as formas peculiares e inusitadas, com que diferentes povos e comunidades lidam com a morte.
Estamos matando a morte
“Estamos matando a morte”, essa frase me gerou muitas reflexões. Caitlin Doughty, através da sua experiência como agente funerária, nos faz refletir sobre a importância das cerimônias e rituais de passagem, segundo a autora, a prática ajuda a materializar a morte aos olhos de quem fica, além de auxiliar no processo de superação e “cura” do luto.
O contexto do livro tem como base a vasta e milionária indústria funerária dos Estados Unidos, mas facilmente conseguimos fazer um comparativo com a nossa realidade aqui no Brasil. Principalmente no ocidente, há um constante processo de distanciamento da morte, diferente de algumas culturas e religiões orientais que possuem um outro olhar sobre o tema.
Os Rituais de Morte Espalhados pelo Mundo
O que pode nos parecer irracional e macabro, aos olhos de uma cultura e comunidade é sinal de naturalidade e respeito. Pensar que existem lugares com uma ótica tão diferente sobre a morte amplia nossos horizontes e nos traz inevitavelmente, muitas reflexões.
Como diz o subtítulo na capa, o livro nos leva a “conhecer o mundo de mãos dadas com a morte”, os relatos pessoais da autora e sua escrita envolvente, contribui muito para a experiência do leitor.
Além de explorar alguns locais dos Estados Unidos como a Pira Comunitária do Colorado ou o centro de pesquisa na Carolina do Norte que busca a “recomposição humana”, nada mais sendo do que um centro de compostagem de cadáveres, também conhecemos a Cultura por traz do Dia do los muertos no México, além dos rituais da Indonésia, Japão, Bolívia e Espanha.
Uma região remota da Indonésia, por exemplo, possui um ritual bastante difícil de conceber na nossa realidade. Eles possuem uma forma peculiar de permanecer com os seus entes queridos após a morte: a cada três anos mais ou menos, eles desenterram seus mortos,que passam por um processo de mumificação antigo (embora a moda agora seja usar formol), limpam seu corpo, trocam suas roupas e preparam eventos para recebê-los, além de uma tradicional foto em família.
A família limpou o rosto dele com uma vassoura de grama e o virou para tirar a pele seca da parte de traz da cabeça. Ele foi colocado de pé para um retrato de família, e todos se reuniram em torno dele, alguns estoicos, alguns sorrindo.
Apesar do tema ser carregado de pesar e tristeza, aos olhos da nossa atual sociedade, a autora consegue abordar diversos temas de um jeito bem leve e natural. Não é um livro que te traz uma carga emocional pesada, muito pelo contrário, sentimos os esforços da autora em retirar o tabu a cerca do assunto, nos ajudando a pensar sobre a morte, como uma simples parte inevitável da vida.
Espero que tenham gostado dessa indicação de livro de não ficção por aqui. O que acharam da proposta de Para Toda a Eternidade? Até mais pessoal !
♡
Nota: ☆☆☆☆☆ | Título: Para Toda a Eternidade| ISBN: 8594541708 | Ano: 2019 | Especificações: 224 páginas | Editora: Darkside Books | Comprar: Amazon,Darkside Books
[Esse livro foi enviado pela Darkside Books]
Suas resenhas são tão profundas que é impossível não querer conhecer as histórias, mesmo quando elas não são do nosso gênero favorito. Amei esse livro! ❤
https://www.kailagarcia.com
ahhh obrigada sua linda <3 feliz que gostou da resenha por aqui :)
Essas fotos <3
Gostei MUITO dessa leitura. E agora quero ler o livro anterior da autora.
Eu também haha <3
Oi Daí
Eu li o outro livro da Caitlin , o “Confissões do crematório ” ,no ano passado e foi uma das minhas melhores leituras do ano passado
Amei a narrativa dela e o fato que ela falava como outras culturas e outras épocas (como a idade média) encara a morte e achei muito interessante.
Esse livro “Para toda a eternidade ” parece focar nesses pontos o que me deixou interessada em ler esse livro .
Amei a resenha
Beijos
Meu mundinho quase perfeito
Acho que você vai gostar bastante desse então Babi ^^
Eu fiquei com muita vontade de ler o outro livro da autora, gostei da escrita dela <3
Beijos