O Diário de Nisha: Entrevista com Veera Hiranandani | Darkside Books

Eu fiquei super feliz de receber a cópia antecipada desse livro. Foi muito gratificante ver, posteriormente, O Diário de Nisha em sua edição definitiva, produzida com tanto capricho pela Darkside Books, capaz de transmitir em todos os seus detalhes o que há de mais bonito nessa história de superação.

Veera Hiranandani tem uma escrita delicada, capaz de nos cativar desde as primeiras páginas. Conhecemos essa história através das entradas de diário de Nisha, uma garotinha de 12 anos, metade hindu, metade muçulmana, que tem a sua vida completamente desestruturada por conta da partição de seu país: a Índia.

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Após anos de tensão religiosa, a Índia tornou-se dois países independentes do domínio Britânico: A Índia com a maioria hindu, e o Paquistão com a maioria muçulmana.

A partição foi bastante violenta. Estima-se que 1 milhão de pessoas morreram em decorrência dos conflitos, e outros milhões foram obrigados a deslocar-se de suas regiões de origem.

Nisha vê o seu lar e a sua vida serem totalmente desfigurados diante dos desdobramentos políticos do país. Ela se questiona porque não é mais seguro frequentar a escola, ou porque precisará embarcar as pressas com a família – o pai, a avó e o irmão – , para o primeiro trem rumo a um novo lar.

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Os relatos de Nisha são bastantes imersivos e ricos em detalhes. Conseguimos aprender muito sobre a cultura do país. Aspectos como a culinária local, ganham um destaque bastante especial, já que é na cozinha ajudando Kazi – o cozinheiro da família, a preparar pratos deliciosos e caprichados, que a personagem consegue se encontrar, vendo a culinária como um verdadeiro refúgio.

Nisha é uma personagem cativante, que possui seus próprios desafios pessoais a superar, como a falta da presença da mãe (já falecida), ou a sua dificuldade em expressar-se verbalmente. É bonito acompanhar as suas etapas de superação e toda coragem e força que ela carrega dentro de si.

A cada instante dessa jornada dura rumo a um destino totalmente novo e imprevisível, é impossível não torcermos por Nisha e seus familiares, bem como por Kazi, que mostra que família independe de nossos laços sanguíneos.

Histórias contadas por um ponto de vista infantil geralmente conseguem me cativar e dessa vez não foi diferente ♡

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Entrevista com Veera Hiranandani

Foi um verdadeiro presente receber o convite da Darkside Books de entrevistar Veera Hiranandani, a autora de O Diário de Nisha.

Confira esse conteúdo super especial e se apaixone um pouco mais por essa história ♡

1- Acompanhando a jornada de Nisha e sua família nos sentimos imerso na cultura indiana. Qual foi o seu maior desafio para apresentar aos leitores do mundo todo os aspectos de uma cultura tão rica e diversificada?

Tentei me concentrar nessa família em particular e em sua experiência específica, tanto quanto possível. Eu baseei muitos detalhes na família do meu pai e onde ele cresceu. Eles também tiveram que deixar sua casa durante a partição. Para os aspectos que eu não conhecia, eu lia livros, falava com outros parentes e amigos e lia o maior número possível de relatos de famílias afetadas pela partição. Como uma escritora de ficção histórica, você tenta criar uma experiência autêntica e imersiva, mas você nunca pode realmente voltar no tempo, então você faz o máximo de pesquisa possível e espera pelo melhor!

2 – A partição da Índia deu-se de maneira extremamente violenta, deixando um rastro de destruição e a morte de milhões. Como foi a experiência de construir uma história com um contexto histórico tão pesado e violento sendo visto e narrado aos olhos de uma garota de 12 anos de idade?

Foi certamente um desafio. Eu tentei permanecer fiel ao que eu achava que uma garota de doze anos veria, observaria e entenderia. Eu precisava mostrar um pouco de violência no livro para ser fiel à história, mas eu não queria tornar isso muito difícil ou perturbador para um jovem leitor lidar. Eu estava sempre pensando sobre esse equilíbrio.

3 – O Diário de Nisha é um romance epistolar, no caso, desenvolvido através das entradas em um diário. O que a levou a optar por esse formato? Você se inspirou em outras obras como o Diário de Anne Frank?

Eu sempre fui interessada em histórias epistolares. Gosto de me dar alguns limites como escritora, o que me ajuda a pensar com mais cuidado sobre minhas escolhas de escrita. Eu sabia que Nisha era extremamente tímida e me senti entusiasmada com a ideia do leitor conhecer um lado muito íntimo dela através do formato diário, uma coisa que ninguém mais veria em sua vida. Eu também pensei que seria atraente e acessível para os leitores mais jovens. Em determinadas passagens do diário, eu decidi criar cenas mais expansivas para o leitor do que uma criança de 12 anos poderia escrever em um diário real, mas eu esperava que os leitores quisessem dar um salto comigo por causa da história. Pensei no Diário de Anne Frank que não leio desde que era jovem, mas sabia que as pessoas fariam essa conexão que considero bem-vinda.

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4 – Na história Nisha apresenta grande dificuldade em comunicar-se com os demais, encontrando na culinária um verdadeiro refúgio. Esse aspecto da personalidade de Nhisa foi inspirado em você ou em alguma experiência da sua infância?

Eu era uma criança tímida e também adoro comer e cozinhar. A comida entra na minha escrita por diferentes razões. O maior motivo é que a comida me ajudou a me conectar com meu próprio passado multicultural. Meu pai é da Índia e é hindu e minha mãe nasceu em Nova York e é judia. Eu sempre digo que Samosa Indiana e a sopa judaica de bolinhos Matzo são minhas comidas favoritas. Para Nisha, achei que poderia ser uma maneira interessante de explorar sua auto-expressão além de falar. Eu também pensei que seria um bom veículo para ela se conectar com Kazi, o cozinheiro da família.

5 – O mundo vive a maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. O Diário de Nisha passa-se na década de 1940, no entanto, a história ainda é bastante atual, podendo até mesmo traçar um paralelo com a nossa realidade. Qual o maior aprendizado e conscientização  que podemos tirar de O Diário de Nisha nesse aspecto?

Espero que, primeiro, os leitores respondam à história. Mas depois disso, espero que os leitores se sintam inspirados a usar suas vozes, mesmo quando sentem que não têm uma. Muitas vezes os jovens são mais corajosos do que pensam, como Nisha descobre ao longo do livro. Eu também espero que as pessoas sejam encorajadas a olhar além dos rótulos de refugiados ou imigrantes, ou uma religião que lhes pareça desconhecida e passem a ver o indivíduo específico e único que existe ali. Senti que era uma história importante para contar por muitas razões, o fato de que se relaciona com algumas das questões que nosso mundo atual está enfrentando como a crise global de refugiados, ou algumas das divisões e a xenofobia que é sentida nos EUA e em muitos lugares agora, é algo que eu comecei a conectar durante o processo de escrita, mas não a principal razão para eu ter escrito essa história neste momento. Eu estava apenas pronta para contar isso.

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Espero que tenham gostado desse conteúdo especial, pessoal. Até a próxima :)

Nota: ☆☆☆☆☆ | Título: O Diário de Nisha | ISBN: 8594540876 | Ano: 2019 | Especificações: 288 páginas | Editora: Darkside Books | Comprar: Amazon,Darkside Books

[Esse livro foi enviado pela Darkside Books]

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