“Um filme sufocante!”. Essa é a frase que melhor define Melancolia (Melancholia, 2011), sendo assim, não é um filme com característica popular, já que acredito que grande parte dos expectadores não sobrevivam ao início, uma vez que são cerca de 8 minutos de cenas mudas, regidas pela ópera Tristão e Isolda, em câmera lenta, na verdade essas cenas remontam parte do filme, e é como se estivéssemos assistindo a quadros que se movem tão imperceptivelmente que somente os mais atentos percebem que ali existe vida.
Próximo á órbita da Terra o planeta chamado Melancolia que até então estava escondido atrás do Sol entra em rota de possível colisão com a Terra, o fato porém, só é um plano de fundo para que as personagens centrais, as irmãs Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg) exteriorizem suas emoções frente ao possível fim eminente.
O filme é dividido em duas partes bem delimitadas, a primeira focando-se em Justine e a segunda em Claire.
No primeiro momento, quando passamos a conhecer a realidade de Justine uma noiva em depressão que no dia do próprio casamento vagava sem rumo entre os convidados, distribuindo sorrisos falsos numa mente vazia de emoções, o tema da colisão planetária é praticamente esquecido, vendo os fatos do ponto de vista da personagem o possível fim é simplesmente insignificante sendo mais plausível uma referencia ao mundo pessoal de Justine sendo completamente engolido pelo sentimento de melancolia. O foco do autor foi justamente abordar todas as aflições que perturbam a mente de um depressivo. As atitudes de Justine diante de uma situação importante da vida demonstra o quão fragilizada e confusa a personagem se encontra, convivendo com uma família mal estruturada e tendo que lidar com as inúteis tentativas da irmã Claire em ajudá-la.
O casamento de Justine
A primeira parte se estende muito em um ritmo lento que remonta o universo do depressivo, o autor que sofre da mesma doença reproduziu em “Melancolia” todo sofrimento que enfrenta uma mente em colapso.
A segunda parte é um pouco mais dinâmica mas não menos angustiante. Nos envolvemos com a apreensão de uma mãe, que teme pelo futuro do filho e pela própria vida diante da aproximação gradativa de um planeta que pode destruir por completo a vida na Terra. Aqui a relação das irmãs fica mais evidente. Claire que vive numa mansão com o marido milionário procura administrar a vida de maneira metódica, enquanto tem que lidar com as constantes crises depressivas de Justine. Os personagens exibem uma expressão apática e a sensação de isolamento é muito forte, uma vez que em meio a paisagens exuberantes, a mansão onde se passa a maior parte do filme parece estar isolada do resto do mundo.
Planeta Melancolia se aproximando da Terra
Há cenas fortes e dispensáveis como agressão a animais, no contexto do filme diante de mentes altamente perturbadas que praticamente não distinguem o certo do errado, a cena pode até ser aceita, embora tornou-se totalmente desnecessária já que as características psíquicas dos personagens já haviam sido muito bem delimitadas.
Dizem que o diretor Lars von Trier, tem propensão a polemicas e filmes não convencionais, se o objetivo de “Melancolia” era criar um universo onde as emoções dos personagem fossem compartilhadas com o expectador de maneira intensa e perturbadora, ele cumpriu seu papel inteiramente e com qualidade.