Adaptado recentemente para o cinema no premiado filme “As aventuras de Pi” vencedor na categoria de Melhor filme do Oscar 2013, o Bestseller de Yann Martel rapidamente passou a rechear as vitrines das livrarias de todo país.
O livro que conta história do jovem Piscine Molitor Patel ou somente Pi Patel, é um romance que possui muita profundidade emocional, uma vez que evidencia a insignificância dos seres humanos e a magnitude do Universo quando um jovem náufrago vê-se como sobrevivente de um terrível acidente dentro de um bote no meio do Oceano Pacífico com a companhia ilustre de um dos maiores predadores da natureza, um tigre de bengala.
Filho dos proprietários de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia, a infância de Pi fora um tanto incomum. Tendo como cenário a natureza selvagem reproduzida em cativeiro, o menino foi construindo os seus valores com base no respeito à natureza associado à espiritualidade.
Foi durante a sua adolescência, porém que Pi conheceu o verdadeiro significado da religião em sua vida. Sua curiosidade o levou a ter contato com três religiões que seguem princípios bem distintos: O Hinduísmo, Catolicismo e Islamismo. Seguindo um caminho diferente dos escolhidos pelos pais assumidamente ateus, o garoto passa a cultivar uma rotina que concilia os ritos e orações provenientes de suas três religiões.
É interessante a reflexão que o livro proporciona analisando as regras impostas pela sociedade e o preconceito cultural existente entre as próprias religiões, que torna praticamente inviável e insano, que as pessoas possam encontrar sua fé e espiritualidade participando de mais de uma religião.
É por razões políticas relacionada a instabilidade do governo de Sra Gandhi e as interferências negativas que isso proporcionou ao andamento dos negócios, que Santosh, o patriarca da família Patel visando um futuro mais seguro, opta por desfazer-se do zoológico e lutar por um novo recomeço no Canadá.
Depois de um longo período de preparativos, a família indiana embarca no cargueiro japonês que transportava vários animais com destino a América, o Tsimtsum. O navio porém, após ser atingido por uma torrencial tempestade no meio do oceano, não se mostra resistente o suficiente para chegar em segurança ao novo continente e afunda nas profundezas das águas do Pacífico.
É a partir do naufrágio e de todas as incertezas e peculiaridades que Pi encontraria no seu bote salva vidas que o menino inicia sua maior provação: Resistir a natureza assassina de animais selvagens enquanto luta para encontrar o significado da vida depois de sofrer tamanha mutilação emocional.
O livro aborda de maneira natural o aprendizado do protagonista com relação a questão da sobrevivência em auto-mar com poucos ou nenhum recurso. Logo os leitores estão fazendo parte de uma rotina capaz de desgastar corpo e mente em que cada detalhe pode ser o diferencial entre a vida e a morte.
Para quem teve como uma das primeiras experiências de leitura os clássicos livrinhos da coleção Vagalume “A ilha perdida” e “perigos no Mar”, ler uma história que trata da questão da sobrevivência em meio a situações adversas me proporcionou uma agradável sensação de nostalgia.
A obra que já vendeu 7 milhões de cópias em todo o mundo, rendendo ao autor o mais importante prêmio da literatura inglesa, o Booker Prize de 2002, também está envolvido em questões polêmicas. Devido as inegáveis similaridades com a obra “Max e os Felinos” do autor brasileiro Moacyr Scliar publicada em 1981, Yann Martel foi acusado de Plágio. A questão porém deu-se por encerrada quando os dois autores concordaram que apesar das obras possuirem a mesma premissa, o restante é bem diferente. Uma outra versão sobre a história, muito mais realista e convincente pode ser encontrada numa reportagem do Blog da Companhia das Letras escrita por Luiz Schwarcz em que Moacyr Scliar demonstra sua total insatisfação e a situação desfavorável que deveria enfrentar se optasse por levar o processo adiante.